Eu lembro que na casa dos meus pais as louças bonitas só eram usadas quando havia visita. E a prataria então? Só quando a visita era muito chique. Se a gente derramava molho na toalha, papai ficava bravo. E quando quebrava alguma taça, eles se esforçavam para lembrar quantas ainda restavam no jogo. Num domingo qualquer, eu a minha irmã resolvemos levantar mais cedo e preparar o café da manhã. Nossa grande surpresa seria usar a louça das ocasiões especiais. No livro de Português tinha a receita de como coar o café direitinho e minha irmã, mais velha que eu, se encarregou dessa tarefa mais perigosa. Mas eu esbarrei no bule, ele caiu no chão e quebrou. Comecei a chorar e tremer de medo da reação do meu pai. Acho que nesse dia ele não brigou. O tempo passou e papai foi ficando mais manso, se deu o direito de curtir as coisas bonitas com a família. Acho que a vida e as experiências mostraram para ele que esse era o caminho mais sensato. Durou pouco, mas nos marcou muito. Todos nós cultivamos essa beleza não só no ato de receber, mas também para nós mesmos no dia a dia. É claro que eu também me dou o luxo de comer um misto quente na cama. Mas quando quebro uma taça ou mancho alguma toalha, eu lembro que beleza faz bem e que vale a pena usar a louça bonita, a taça de cristal, ou o sousplat, mesmo que seja para uma simples sopa. Porque a vida passa rápido e uma ocasião especial pode ser hoje mesmo.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
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